Por: Alexandre Macedo Pereira
A Conferência Rio + 20, a ser realizada de 20 a 22 de junho, do corrente ano, é segundo Brice Lalonde, “uma oportunidade histórica para desenvolver idéias que possam promover um futuro sustentável - um futuro com mais postos de trabalho, com fontes de energia limpa, com mais segurança e com um padrão de vida decente para todos. "O Rio+20 é um dos maiores encontros mundiais sobre o desenvolvimento sustentável do nosso tempo". O evento mobiliza as representações governamentais e não governamentais do mundo inteiro, tendo como centralidade, segundo Ban-Ki-Moon, “construir um modelo de desenvolvimento sustentável”.
Este é um momento oportuno para os movimentos sociais, científicos, políticos, ativistas refletirem sobre os avanços e retrocessos do campo da Educação Ambiental no Brasil, nos últimos vinte anos, e os desafios impostos pelo modelo de desenvolvimento econômico vigente, assim como as questões ambientais.
A Conferência Rio 92 foi um marco na trajetória do campo da Educação Ambiental no Brasil. A partir desse referencial histórico algumas conquistas se consolidaram no cenário nacional, dentre elas destaca-se a Política Nacional de Educação Ambiental (Lei 9795/99).
Todavia, o momento exigia realizar o processo de reflexão-ação, binômio que aborda não somente o pensar teórico, mas, o pensar validado na prática social ligado ao agir/transformar (FREIRE). Ação e conhecimento elaborando a realidade, o homem e a natureza. Neste sentido também se posiciona Mao Tse-Tung ao afirmar que o critério de verdade é a prática social.
Constitui-se neste momento histórico um questionamento fundamental: que compreensão de educação ambiental é possível na contemporaneidade? Que contribuições a Educação Ambiental vem dando na transformação da realidade no Brasil? Ainda não foi possível constatar mudanças substanciais no campo da educação Ambiental. Os avanços são frágeis, seja no campo da educação formal, não formal e informal. Portanto, é necessário compreender as contradições e antagonismos constitutivos da Educação Ambiental no Brasil.
Por fim, uma última questão: qual o espaço que a Educação Ambiental ocupa na agenda da Rio + 20? Não precisam sofrer! Nenhum. Há muito mais que refletir sobre esse processo, todavia, estamos apenas refletindo sobre uma parte da realidade posta, mas não desconsiderando a sua totalidade, pois se o assim fizesse estaríamos atuando no campo da aparência. Se quisermos consubstanciar a Educação Ambiental precisamos, como afirma Paulo Freire, realizar uma práxis transformadora, a qual por sua vez exige a compressão da totalidade. Portanto, olhar para a particularidade requer compreender as conexões e ligações todo/parte, parte/todo. Processo essencial na compreensão dos fenômenos.
Está na hora de superar fragilidades teóricas, políticas, metodológicas e avançar com consistência para a elaboração criativa de uma Educação Ambiental comprometida com os seres humanos, contra as injustiças, uma Educação Ambiental politizada e ética. Nesse momento não é mais possível fazer Educação Ambiental abraçado com as forças produtivas do capital. Vinte anos de história têm mostrado de forma clara e ampla que, inseridos no sistema atual torna-se impossível a “sustentabilidade” pretendida. Nesse sentido coloca István Mészáros: “...o sistema do capital é incorrigível”.
Rio Grande, 23 de maio de 2012.
Alexandre Macedo Pereira é Pedagogo pela Universidade Estadual da Bahia, Psicopedagogo pela Faculdade Internacional de Curitiba, Mestre em Gestão de Recursos Naturais e Desenvolvimento Local na Amazônia pela Universidade Federal do Pará e Doutorando em Educação Ambiental pela Universidade Federal do Rio Grande. Alexandre é colaborador do blog e escreverá artigos todas as primeiras sexta feiras do de cada mês.
Alexandre,
ResponderExcluirParabéns pela escrita!Li e achei muito bom o teu texto!Bem construído, crítico e também propositivo!
Continue compartilhando conosco as tuas escritas.
Um abraço,
Vânia.
Obrigado Vânia. Esse é o momento de mudar-mos o rumo da educação ambiental no Brasil.
ExcluirQuerido, lendo seu texto acabo por me lembrar de todas as reuniões e conferências que participei, que tinham o mesmo intuito que a Rio + 20 tem hoje. Bem, na minha opinião, hoje compreendo que essas reuniões nada mais são do que “desculpas” para se gastar milhões em organização de eventos, os quais demandarão mais reuniões que gastarão mais dinheiro. Tudo isso virou um negócio camuflado sob o termo sustentabilidade. Então, sabemos que tudo isso ao final não resolverá muita coisa à vida dos mais interessados que somos nós. Creio que o caminho teórico que estás fazendo hoje, é o início para a compreensão e solução desses problemas ambientais que acometem a todos. Por fim, não acredito mesmo na Rio + 20, mas ainda espero estar errada!
ResponderExcluirBom, esqueci de assinar: Thaíssa Pinheiro.
ResponderExcluirQuerida,
ResponderExcluirSua análise é perfeita, aliás, fruto de toda a sua experiência internacional em conferências. Acredite,não se tratar de pessimismo, mas, de constatação. Porém, há outras possibilidades de organização social e devemos contruí-las. Abraço,
Talvez eu não tenha conhecimento suficiente para discutir sobre o assunto, mas , de fato ainda vemos muita falação e pouca ação em nosso país, e grande parte de conferencias e projetos criados não saem de um momento de 'show' com poucos resultados , porém, também defendo que se conformar com a situação não é a saída, de modo que a divulgação de textos como esse para a conscientização de alguns já é um passo importante. Não podemos simplesmente ignorar as questões ambientais, temos que trata-las antes que as coisas fiquem piores. Como disse Albert Schweitzer "O mundo tornou-se perigoso, porque os homens aprenderam a dominar a natureza antes de se dominarem a si mesmos."
ResponderExcluirParabéns pelo texto !
Parabéns Alexandre pelas tuas considerações, que como já conheço, são totalmente pertinentes e coerentes. A tua colaboração neste blog, é uma das muitas outras possibilidades de mudarmos os rumos da EA. Abraços. João Pouey
ResponderExcluirEstou cansada de ouvir sobre a Rio+20. Sabemos que nada vai mudar a partir dessa conferência. No entanto a mídia tenta nos convencer que essa é a solução real para os problemas ambientais no mundo.
ResponderExcluirThaíssa Pinheiro
Espero que a EA ambiental tome um novo rumo no Brasil. Hoje, a EA está desacreditada. Vejo professores das universidades públicas com dedicação exclusiva servido a iniciativa privada. Não podemos aceitar isso na EA. Mas está ocorrendo.
ResponderExcluirA categoria "sustentabilidade" só apresenta sentido e existência na formação sócioeconômica capitalista, onde adquiri valores apologéticos, escamoteando o eufemismo do fetiche. Superado esta forma societal o uso dessa expressão será uma contradição em termo. Excelente o texto grande mestre Alexandre Macedo.
ResponderExcluirPor isso, meu amigo Alexandre Macedo, precisamos estar atento a tudo que ocorrerá lá na Rio +20. Não queremos essa educação ambiental que defende a economia verde e o desenvolvimento sustentável. Queremos sim, o Ecossocialismo do Michel Lowy e as propostas alternativas de uma sociedade socialista e sustentável.
ResponderExcluirA furada ideologia da destruição produtiva é para os ouvidos empreendedores, famintos por cifras do lucro. A produção determinada pelo capital é o intercambio alienado do trabalho com a natureza, uma verdadeira PRODUÇÃO DESTRUTIVA RUMO A BARBÁRIE. Há um cinismo deliberado das grandes potências mundiais, Estados Unidos à frente, sobre a questão ambiental, sobre a pobreza, a fome, a saúde e o crescimento populacional, pontos interligados à preservação do planeta e essa conversa fiada de desenvolvimento sustentável dentro da lógica capitalista que é a destruição.
ResponderExcluirHoje acompanhando a cúpula dos povos, fiquei indignado...
ResponderExcluirA ANATEL invadindo a cúpula para fechar a rádio do evento...
Muda-se uma lei no Brasil para favorecer a venda de bebida alcoólica nos estádios de futebol, mas, não se pode deixar uma rádio popular atuar em um evento dos povos.
A educação ambiental que fazemos e defendemos, entende que as mediações são realizada nos diversos espaços e por isso ela é educação ambiental emancipatória. Não há voz oprimida que os educadores ambientais críticos não denunciem. Nós estamos do lado dos povos, da classe trabalhadora, dos excluídos, dos índios, dos negros, da diversidade.
Estamos contra essa nova onda da economia, a economia verde. Não acreditamos em sustentabilidade em um sistema insustentável.
A Rio + 20 é mais um engodo, uma mentira das classes dominantes...
Não a esse governo reacionário, burguês e intolerante.