O texto de 19 páginas que está sendo apresentado como um rascunho dos compromissos que serão firmados por chefes de Estado presentes na conferência Rio 20, em junho no rio de Janeiro, foi considerado ambíguo, burocrático e pouco profundo por intelectuais e ambientalistas reunidos no Fórum Social Temático (FST) de Porto Alegre.
"Precisamos constranger os que preferem a inércia ou corremos o risco de a conferência virar uma festa, com sinalizações muito incipientes de avanço sem que ninguém coloque o dedo na ferida", provocou um dos idealizadores do Fórum Social Mundial Oded Grajew ao abrir o debate “A Rio 20 e a construção de Cidades Sustentáveis”, na tarde desta quarta-feira.
Os integrantes da mesa, que contava com nomes como o da ex-senadora Marina Silva (atualmente sem partido) e os teólogos Leonardo Boff e Frei Betto concordaram com a opinião manifesta por Grajew e reiteraram a necessidade de que a sociedade civil – organizada ou de forma individual – pressione para que a Rio 20 tenha alguma efetividade.
"O documento apresentado como rascunho tem sérias assepsias. O problema continua grave, o diagnóstico é gravíssimo, porque baixar as expectativas (sobre os resultados do evento)?", criticou a ex-senadora Marina Silva.
Outros conferencistas foram mais longe e afirmaram sua descrença de que a Organização nas Nações Unidas (ONU), promotora da Rio 20, esteja de fato disposta a liderar o enfrentamento à países que descumprem as regulamentações internacionais sobre o meio ambiente.
"Não creio na capacidade da atual direção da ONU de abraçar a pauta consequente e tenho dúvidas se os chefes de Estado do G8 darão alguma importância à Rio 20", admitiu o teólogo Frei Betto.
Seu colega de estudos sobre religião e também um líder de filiação esquerdista Leonardo Boff lembrou que passada mais de uma década da divulgação da Carta da Terra, agenda de compromissos com a sustentabilidade construída globalmente, ainda não ganhou a importância devida.
"A Carta da Terra é um documento assumido pela Unesco, um organismo da ONU, e deveria estar dentro dessa discussão, mas não o incorporam porque é absolutamente anti-sistêmico", condenou.
Ao longo do debate – cuja intenção era avaliar pontos para serem propostos como compromissos dos governos na construção de cidades sustentáveis – muitas dúvidas foram lançadas sobre os políticos e o sistema democrático vigente.
"Boa parte das conquistas são perdidas na área da política. O Brasil não está precisando de uma discussão de oposição ou situação: está precisando de posição. Qual a posição que nós temos em relação ao desfaio da mudança de modelos de desenvolvimento?", ponderou Marina Silva.
A ex-senadora, que ficou em terceiro lugar nas eleições presidenciais de 2010 quando concorreu pelo Partido Verde (PV) lembrou ainda de um compromisso de campanha da atual presidente do Brasil, Dilma Rousseff para pedir que a chefe do Executivo vete o texto do Código Florestal caso ele não seja modificado no Congresso.
"Ela se comprometeu no segundo turno, assinando de próprio punho, que vetaria qualquer projeto de lei que significasse aumento do desmatamento e anistia para desmatadores. Como o projeto que está aí promove justamente isso, eu peço ao povo brasileiro que se mobilize para dar sustentabilidade política a presidente Dilma para que ela possa honrar esse compromisso", instou a plateia, que a aplaudiu fortemente durante alguns minutos.
Da Agência O Globo
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