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25 de novembro de 2012

Deu na imprensa: rios sob ameaça em Belém


Ariri e Maguari sofrem com a ocupação irregular de suas margens
ANNA PERES

Da Redação (O Liberal Atualidades - 25/11/2012)

A paisagem ainda é bonita, mas o odor desanima quem se aventura por um passeio no rio Ariri, no limite entre os municípios de Belém e Ananindeua. Segundo o ambientalista e coordenador técnico do Fórum de Desenvolvimento Sustentável das Ilhas, Evandro Ladislau, a manutenção da mata ciliar, mesmo sob fortes ameaças do crescimento urbano, é o que mantém o rio a salvo de se transformar em mais um canal. Mas até quando? "Do ponto de vista de suas águas, o rio já começou a morrer. O que o mantém vivo é a sua mata ciliar, se ela for retirada nada vai diferenciá-lo de um canal, como ocorreu com o São Joaquim", alertou.

Ambientalistas como Ladislau pretendiam aproveitar o Dia do Rio, comemorado ontem, 24, para chamar atenção para a causa dos mananciais em risco permanente de degradação. "Todo mundo quer a expansão da cidade, mas ninguém se preocupa com a preservação de áreas importantes para a manutenção dos rios, de um clima tolerável e das condições de sobrevivência das populações tradicionais", disse.

Enquanto o rio Ariri agoniza lentamente por conta do esgoto despejado indiscriminadamente em suas águas, outro rio, o Maguari, é ameaçado pelo avanço urbano sobre sua mata ciliar, processo que se acelerou consideravelmente nos últimos anos e pode ser constatado em um rápido passeio pelo rio, que, em breve, deve receber uma ponte ligando as ilhas de Outeiro e Mosqueiro. "Não somos contra a construção da ponte, o que nos preocupa é a realização do empreendimento antes da garantia de preservação ambiental da área. Se observarmos, o simples anúncio da construção da ponte foi suficiente para despertar o interesse do mercado imobiliário pela região", diz.


O mais curioso, segundo Ladislau, é que a preservação dos dois rios deveria estar assegurada por lei municipal desde 1993, época do primeiro Plano Diretor Urbano (PDU) de Belém, que previa a preservação e recuperação de ecosistemas de interesse ambiental na cidade. Em 2008, a revisão do PDU foi ainda mais longe e estipulou a criação de 30 zonas especiais de interesse ambiental em todo o território de Belém – continental e insular – entre elas o Parque Ariri e a Orla do Maguari, justamente para garantir a conservação dos rios. Hoje, quatro anos depois, apenas seis dos 30 projetos estão regulamentados, ainda assim pelo menos três deles são pré-existentes: o Bosque Rodrigues Alves, o Museu Emílio Goeldi e o Parque Ambiental do Utinga.

Nas águas escuras e fétidas do rio Ariri, a presença de peixes é pouco provável. Já no rio Maguari eles começam a ficar escassos. Mesmo assim, ainda é dessas águas que o pescador João dos Santos, 43 anos de idade, mas aparentando ter muito mais por conta do sol e da vida sofrida sobre as águas, tira o sustento da família. Na companhia do neto, que conduzia a embarcação utilizando um remo, ele tinha passado quase dez horas da última quinta-feira, no rio, em busca de peixes. "Para conseguir alguma coisa tem que ir lá fora", disse. Lá fora é cada vez mais longe da margem degradada do rio e do pequeno pescador, remando contra a maré do crescimento urbano desordenado para sobreviver.