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23 de agosto de 2011

Mudar nome de rua é ato político



Em tempos de mudanças de nomes de rua em Belém, quero aqui reproduzir o belíssimo texto do Jornalista Sérgio Buarque de Gusmão, que tive o prazer de encontrar em seu site pessoal intitulado Contra Corrente em: http://sergiobg.sites.uol.com.br/indice.html.

Ao companheiro Zé Carlos do PV, deixo mais esse argumento: houve tempo em que os motivos para mudança de nomes de ruas eram mais relevantes. Hoje, uma maioria  de vereadores, entre a história e seus interesses mesquinhos, não tem dúvidas sobre qual opção tomar. Borduna neles!

Mudar nome de rua é ato político


Sérgio Buarque de Gusmão

Mudança de nome de rua agrada a uns e irrita outros. É sempre efeito do mito fundador, a impressão da marca de uma ruptura, como a República sobre a Monarquia, ou de uma corrente política, e mesmo de uma administração que se diferencia da anterior com nova doutrina e visão do mundo – sem falar do prazer dos vitoriosos em apagar o rastro histórico dos vencidos. Logo, as letrinhas nas tabuletas refletem a escolha dos heróis entronizados pelos poderosos do dia. Como há muito mais heróis do que ruas, a 15 de Agosto virou Presidente Vargas, a Lauro Sodré tornou-se Ó de Almeida e a Tv. do Landi foi rebatizada como Padre Prudêncio.

Derrotados, os combatentes da Cabanagem foram proscritos do mapa de Belém porque eram um exemplo a ser evitado. Cumpria apagá-los da memória histórica da cidade. Todas as transformações políticas que vieram a seguir não lhes repararam a injustiça, nem mesmo a República ou a Revolução de 30. Até a redemocratização do País, e em particular a gestão do atual prefeito Edmílson Rodrigues, que se diz cabano, estavam fora da história e das ruas. Um e outro emprestaram o nome a um logradouro, mas nada tão marcante quanto a homenagem à Guerra do Paraguai que cobriu as ruas do Marco. Eduardo Angelim chegou a ser o nome da Tv. Piedade e hoje é uma passagem pros lados da Marambaia. Tiradentes foi resgatado da maldição do Império pela República, que encheu o país com monumentos e logradouros em homenagem ao herói da Conjuração Mineira. Em São Paulo, as ruas e praças Getúlio Vargas ficam na periferia distante, enquanto as datas da rebelião que 1932 que enfrentou o caudilho estão estampadas em grandes avenidas centrais, como a 9 de Julho e a 23 de Maio.
  
Dar e mudar nome de rua é um ato político. Em sua coluna Hoje na vida do Pará, no Liberal de 14/04, José Valente nota que muitas ruas do Umarizal remontam ao século XIX. “O século XX não os esqueceu. No século XXI, haverá por certo algum ilustre vereador, analfabeto em História do Pará, querendo extirpá-los.” Boaventura da Silva, Domingos Marreiro, Bernal do Couto, Oliveira Belo, o italiano João Balbi são próceres da Revolução Nacionalista de 1823. O Brasil já estava separado de Portugal, mas, seis meses depois, 270 nacionalistas do Pará eram condenados à morte por pregar a adesão do estado à Independência. A sentença terminou suspensa por interferência de amigos, embora alguns tenham sido assassinados pelas condições insalubres do navio em que foram desterrados para Lisboa.

Há uma pequena glória cartográfica em morar numa rua dessas. A maioria das pessoas talvez não dê a mínima, mas sempre me interessei em conhecer a obra do nome que autografa a rua ou o bairro onde vivo. Em Belém morei, entre outras, na rua do historiador e jornalista Manuel Barata e, em plena ditadura militar, amarguei um endereço no conjunto Costa e Silva. Nem sempre se pode escolher, mas, quando se pode, é um prazer ver, no envelope que o carteiro entrega, nosso nome associado a alguém que admiramos.

3 comentários:

  1. Adorei o artigo e vou transcrever no meu blog.

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  2. A rua 25 de Setembro,virou Rômulo Maiorana e a Aldeia Cabana de Cultura Amazônica Davi Miguel, virou Aldeia Amazônica. Sou contra os novos nomes a quem devo recorrer contra essas excrecências?

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  3. Prezado anônimo das 13:23, manifeste-se mandando e-mail para Câmara dos Vereadores no seguinte endereço: comunicacao@cmb.pa.gov.br e vamos protestar até que nos ouçam.

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